
Gestão eficiente de contencioso cível massificado com tecnologia
O crescimento exponencial da judicialização no Brasil, especialmente em matérias cíveis de massa, impõe desafios consideráveis à advocacia empresarial. A litigiosidade excessiva, muitas vezes alimentada por práticas de litigância predatória, desafia departamentos jurídicos e escritórios a atuarem com eficiência sem abrir mão da qualidade.
Escritórios e departamentos jurídicos são confrontados diariamente com a necessidade de responder a centenas – quando não milhares – de ações simultâneas, muitas vezes padronizadas, mas que exigem respostas individualizadas, respeitando nuances jurídicas e processuais.
Nesse cenário, a adoção de tecnologias específicas para a gestão do contencioso estratégico não se trata de uma escolha estética ou modernizadora, mas de uma necessidade operacional. A atuação em contencioso cível massificado e de grande volume exige mais do que organização: exige visão estratégica, gestão por dados e decisões orientadas por tecnologia.
No Lucchesi & Dolabela, compreendemos que uma gestão de contencioso que seja eficiente exige mais do que organização de prazos e peças. Exige a transformação de dados processuais em inteligência jurídica acionável, capaz de orientar tomadas de decisão, formular políticas de acordos e antecipar riscos. A tecnologia, nesse sentido, não apenas automatiza tarefas: ela redefine a forma como lidamos com o litígio, reposicionando o contencioso como uma frente de governança jurídica baseada em dados.
Abordaremos neste artigo os desafios da advocacia empresarial na gestão tradicional em grandes carteiras de contencioso cível e os benefícios da aplicação de tecnologia na advocacia para transformar a gestão do contencioso em uma frente de inteligência jurídica e prevenção de riscos.
Desafios na gestão tradicional em grandes carteiras de contencioso cível
O ponto de partida para a transformação do contencioso de massa em um contencioso estratégico é o diagnóstico das limitações da gestão tradicional. Em carteiras com grande volume de processos, é comum que a atuação jurídica se veja refém de um modelo reativo, voltado apenas ao cumprimento pontual de prazos e à reprodução mecânica de defesas.
A ausência de sistemas integrados, a fragmentação das informações entre diferentes plataformas e a carência de indicadores confiáveis dificultam a construção de uma estratégia coesa. Além disso, o excesso de trabalho operacional sobrecarrega advogados e retira tempo precioso de análise e formulação.
Em resumo, a condução tradicional de carteiras com centenas ou milhares de processos cíveis apresenta problemas estruturais recorrentes:
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- Fragmentação de informações entre diversos sistemas e canais de intimação;
- Dificuldade em padronizar estratégias de defesa e manifestações processuais;
- Baixa previsibilidade de desfechos, o que dificulta provisionamentos contábeis e estratégias negociais;
- Alto custo operacional, impulsionado por rotinas repetitivas e descentralizadas;
- Risco jurídico ampliado, sobretudo quando a gestão é reativa e não baseada em dados.
A consequência mais frequente é a perda de oportunidades estratégicas – seja na antecipação de acordos vantajosos, na estruturação de teses mais robustas ou na mitigação de riscos reputacionais.
A superação desses entraves exige mais do que um aumento de pessoal. Exige mudança de paradigma na forma de gerir o jurídico: do foco reativo para a gestão ativa e preditiva baseada em dados.
Soluções tecnológicas para uma gestão eficiente
A incorporação de tecnologias específicas – desenvolvidas ou adaptadas ao contencioso cível – permite reverter esse cenário por meio de três frentes principais: automação, monitoramento e análise de dados.
Essas soluções não atuam isoladamente nem substituem o olhar técnico do advogado. Elas são concebidas para se integrar aos fluxos de trabalho jurídico, racionalizando esforços, ampliando a capacidade de resposta e, sobretudo, fornecendo bases empíricas para decisões estratégicas.
Automação de tarefas repetitivas
A automação de rotinas jurídicas, como a elaboração padronizada de peças, a organização de documentos ou o preenchimento de informações repetitivas em sistemas judiciais, representa um avanço operacional indispensável.
Ferramentas de workflow jurídico e automação documental permitem:
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- Peticionamento em lote com variações parametrizadas;
- Consolidação de dados processuais diretamente dos tribunais (via APIs ou robôs);
- Agendamento inteligente de prazos com alertas automatizados.
Assim, a automação jurídica oferece celeridade e precisão na execução de tarefas operacionais repetitivas, reduzindo o risco de falhas humanas e otimizando a alocação de tempo da equipe.
Monitoramento inteligente de eventos processuais
O monitoramento contínuo de eventos processuais, por sua vez, garante que andamentos relevantes sejam identificados e tratados com a urgência necessária, favorecendo uma atuação mais proativa e menos reativa.
O uso de sistemas de event detection com análise contextual dos andamentos permite:
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- Identificação de eventos críticos (ex: sentença publicada, decisão de tutela antecipada, intimação para acordo);
- Ativação de protocolos de resposta de forma rápida e eficiente;
- Cruzamento com dados internos (tipo de ação, histórico da parte, valor da causa) para tomada de decisão qualificada.
Além disso, a integração entre sistemas internos e ferramentas como o Sisbajud – especialmente após a regulamentação do cadastramento de conta única – potencializa o controle financeiro sobre execuções e bloqueios judiciais.
Esse monitoramento reduz o tempo de resposta e evita perdas por inércia processual.
Análise de dados e jurimetria para decisões estratégicas
No entanto, o verdadeiro diferencial competitivo reside no uso avançado da análise de dados e da inteligência preditiva para a construção de políticas jurídicas orientadas por evidências.
É nesse ponto que a jurimetria passa a desempenhar um papel fundamental. A partir da coleta estruturada e contínua de dados processuais – como tempo médio de tramitação, decisões favoráveis por tipo de ação, comportamento de determinados magistrados e índice de êxito em ações similares – torna-se possível mapear padrões e antecipar comportamentos processuais com razoável grau de previsibilidade. Isso permite, por exemplo:
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- Ajustar estratégias de defesa conforme o perfil do juízo;
- Definir limites objetivos para propostas de acordo; ou
- Identificar pontos críticos que demandam reavaliação jurídica e institucional.
Além da predição, a análise de dados possibilita a criação de painéis gerenciais de business intelligence jurídico com indicadores-chave (KPIs) sobre a performance da carteira: taxa de improcedência, volume de novas ações por unidade, índice de acordos, percentual de encerramentos por desistência ou prescrição, entre outros.
Essas métricas, longe de serem apenas números, passam a embasar decisões estratégicas da alta gestão jurídica e subsidiam a criação de políticas de acordos inteligentes, decisões de desistência ou continuidade de ações, e previsibilidade de riscos financeiros e reputacionais. Além disso, permitem um diálogo mais qualificado com demais áreas da empresa, como finanças, compliance e relações com o consumidor.
Benefícios da implementação tecnológica no contencioso cível
Ao adotar ferramentas tecnológicas, o modelo tradicional de gestão processual cede lugar a um modelo analítico e propositivo, pautado por três grandes transformações:
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- Do controle para a estratégia: o foco deixa de ser apenas o cumprimento de prazos e passa a ser a análise de resultados, padrões e caminhos de resolução.
- Do esforço humano para o desempenho qualificado: reduz-se a carga operacional do time jurídico, que passa a atuar com foco em casos críticos, análise de risco e resolução estratégica.
- Da imprevisibilidade de custos à governança orçamentária: com o suporte de ferramentas analíticas é possível identificar, em larga escala, a tendência dos custos jurídicos por processo e do passivo total – incluindo honorários periciais fixados de forma desproporcional em demandas repetitivas;
- Da reação à prevenção: a leitura inteligente de dados permite que medidas sejam tomadas antes mesmo da citação da empresa, com acordos ou atuações extrajudiciais que previnem o ajuizamento de novas demandas.
A eficiência operacional decorrente da automação e do monitoramento inteligente é apenas a camada superficial de uma mudança mais profunda: trata-se de redesenhar a forma como o contencioso é entendido dentro da estrutura empresarial. O jurídico passa a assumir um papel central na governança de riscos, na preservação da reputação da companhia e na redução de passivos futuros.
Além disso, a atuação preventiva e baseada em dados permite que decisões antes tomadas com base em percepção ou inércia ganhem fundamento empírico. A instituição passa a contar com critérios objetivos para definir quando vale a pena litigar, quando é mais vantajoso compor e quais ações exigem revisão de conduta interna para evitar reincidência.
Assim, os benefícios da tecnologia transcendem a esfera procedimental e se expandem para a gestão de riscos, o planejamento financeiro e a própria reputação empresarial no mercado e perante o Judiciário.
Estudo de caso: sucesso na aplicação de tecnologia no contencioso cível
O Lucchesi & Dolabela já recebeu por 2 anos consecutivos, em 2023 e 2024, o prestigiado selo do Prêmio Análise DNA+Fenalaw.
Em 2024 o case reconhecido foi o “Gestão da carteira“, sobre como lidamos com o grande volume de processos na área de Direito Bancário. Nele apresentamos a nossa solução inovadora, com o uso de jurimetria e business intelligence, para identificar e impulsionar processos estagnados.
O resultado dessa estratégia é expressivo. Nossos casos práticos demonstram que a combinação entre jurimetria, monitoramento automatizado de andamentos e estruturação de políticas de acordo com base em dados se expressam em indicadores concretos, como:
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- Redução no tempo médio de tramitação de processos;
- Aumento no índice de improcedência em causas defensivas, com uso de peças padronizadas e fundamentadas em dados empíricos;
- Maior número de acordos vantajosos por meio de políticas orientadas por predição de resultados;
- Controle apurado do custo jurídico por processo e do passivo total por tipo de ação e região.
Mais do que eficiência, entregamos inteligência. Usamos a tecnologia não para substituir a advocacia, mas para potencializar o que há de mais estratégico na atuação jurídica.
Essas métricas não apenas qualificam a atuação jurídica, mas fortalecem o posicionamento estratégico da empresa-cliente, com impactos diretos na reputação, no fluxo financeiro e na relação com stakeholders.
Ao transformar o contencioso cível em um núcleo de análise de riscos e gestão orientada por dados, ela reposiciona o jurídico como protagonista na governança corporativa. Para empresas que lidam com grandes volumes de litígios, a mensagem é clara: não há mais espaço para uma atuação reativa e artesanal. O futuro da advocacia é orientado por evidência, estratégia e tecnologia.
Conclusão
A adoção de soluções tecnológicas deixou de ser diferencial e passou a ser exigência para uma advocacia moderna, eficiente e centrada em resultados. Mais do que digitalizar tarefas, o uso estratégico da tecnologia permite que advogados tenham mais tempo para atuar com profundidade e inteligência.
No Lucchesi & Dolabela, compreendemos que a tecnologia é meio, e não fim. Por isso, aliamos dados, automação e inteligência preditiva a uma atuação técnica, ética e profundamente conectada com os objetivos de nossos clientes.
Atuamos para transformar o contencioso cível de um centro de custo imprevisível em uma frente de geração de valor, controle e inteligência institucional.
Se a sua empresa busca transformar a gestão do contencioso cível em um ativo estratégico, entre em contato conosco. Nossa equipe está preparada para desenvolver soluções jurídicas personalizadas, combinando experiência prática, domínio técnico e inovação.
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Louis Dolabela
Louis Dolabela é advogado com mais de 13 anos de experiência em Direito Desportivo, Direito de Família, Consumidor e Bancário. Possui MBA em Advocacia de Alta Performance pela PUC-Minas e Pós-Graduação em Conciliação e Mediação de Conflitos pelo Centro de Mediadores. É certificado em Mediação Familiar, Inteligência Emocional, Comunicação Não Violenta e Negociação.

Adriano Lucchesi
Adriano Lucchesi é advogado, inscrito na OAB/MG: 176.171, e sócio do escritório Lucchesi & Dolabela Sociedade de Advogados, graduado na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, possui pós-graduação nas áreas de Direito Desportivo e Direito do Trabalho. Tem experiência com trabalhos nas áreas de Direito Empresarial, Civil e Propriedade Intelectual.